O Relato do Marcelo

"O que aprendi com os quilombolas do Vale do Ribeira" - Por Marcelo Rosenbaum

Chegou um momento da minha jornada enquanto designer em que eu resolvi criar mais impacto na sociedade. Para isso, precisei entender e desconstruir o objeto enquanto design. Design é um processo, uma forma de se relacionar com as pessoas, incluindo-as, ouvindo-as. Há 10 anos criamos o A Gente Transforma, um movimento fundamental para nos aproximarmos de algumas comunidades tradicionais do Brasil, que são laboratórios para nosso aprendizado e construção de uma metodologia batizada de “Design Essencial”.

Design Essencial é um movimento baseado em três pilares: a ancestralidade, o olhar para esses saberes, que também pode ser vocação; a beleza em suas múltiplas dimensões, na ética, na estética, nesses encontros; e a sustentabilidade enquanto autonomia e liberdade. Isso é uma metodologia, na qual a gente desconstrói o objeto mirando sempre a descolonização do olhar, nesse exercício de não nos colocarmos enquanto colonizadores, uma questão que está impregnada na nossa alma. A gente chega achando que o outro vai precisar do que precisamos, do que queremos, mas isso não é verdade.

 

Hoje, sou guardião de um saber que grandes mestres me passaram, porque vejo comunidades tradicionais como universidades. Resolvi então ministrar o curso de Design Essencial no Centro Universitário Belas Artes, com uma imersão junto com os alunos para entrar em contato, também, com esses “professores”. Com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), fomos a Ivaporunduva, uma comunidade quilombola no Vale do Ribeira (SP). Quando ouvi o nome Ivaporunduva pela primeira vez, isso imediatamente entrou no meu coração e não tive dúvida, mesmo sem conhecer o Ribeira: é para lá que nós vamos. Geralmente, identificamos a região por outros lados: florestas, cavernas, história, mas quando chegamos lá pude ver, também, a conexão deles com a natureza enquanto coletivo.

O QUE PODEMOS FAZER JUNTOS É TRAZER MAIS VOZ E POTENCIA A ESSA LUTA SECULAR PELA TITULAÇÃO DAS TERRAS QUILOMBOLAS, E A PROTEÇÃO DA FLORESTA E PERMANÊNCIA DOS POVOS TRADICIONAIS, ATRAVÉS DA PERPETUAÇÃO DOS SEUS CONHECIMENTOS.

Compartilhar