Coleção de bancos de madeira, feitos por moradores da região e inspirados nas incríveis histórias da floresta repassadas por gerações.
A comunidade de Terra Preta está localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, na margem norte do rio há 80 km de Manaus, cerca de 5 horas de barco. Seu nome vem do solo escuro e fértil que permeia a Bacia Amazônica.
O local não faz parte do roteiro turístico do Rio Negro e possui como principal atividade econômica a extração da madeira e o monitoramento da floresta. A pequena comunidade de aproximadamente 230 pessoas possui 4 igrejas e apenas 1 escola que atende aos alunos do ensino fundamental ao médio.
Durante 10 dias, foi proposto a cerca de 15 homens da região, sem qualquer experiência em esculpir, o desenvolvimento de bancos em madeira que são resíduo do manejo da Floresta Amazônica, que carregassem em si um pouco da história e cultura da região, com o objetivo de movimentar a economia local e possibilitar a permanência dessas pessoas em sua terra natal, em harmonia com a floresta.
Numa grande roda de contação de histórias, com a colaboração de todos, os desenhos dos objetos foram surgindo a partir do lápis de um artesão. Os bancos juntam fragmentos de imagens desse universo compartilhado.
O Banco “Lili-Pé Melado” traz as representações da Lili, uma cobra gigante que surgiu no Rio Negro após um terremoto, o banco Pé-melado, conta a história de um par de pés que caminham a noite pela lama da comunidade e já foi ouvido por vários artesãos. O “Banco de Duas Cabeças” traz em si a história do avô de Sérgio, um dos artesãos, que se transformava em porco; do Matin, um pássaro encantado sem penas e feito só de ossos, que possui um assovio arrepiante e já perseguiu alguns dos homens.
Os bancos, assim como os desenhos, não tem autoria individual. São talhados coletivamente, às vezes com 5 homens trabalhando simultaneamente a mesma peça. O designer atua de forma invisível, conduzindo o processo mágico da manifestação do saber ser e saber fazer, carregados de ancestralidade, conhecimentos que estavam ocultos.
Estes seres encantados são obras coletivas que trazem consigo um saber compartilhado, para dar voz à riqueza da cultura brasileira.
As peças carregam a identidade local e contam a história de Terra Preta. Esta terra de homens fortes, sensíveis, talentosos em conexão com o lugar, refletem a potência do uso da ferramenta DESIGN-BIOMA, que conecta os saberes à biodiversidade, para construir identidade e gerar fluxo de prosperidade.
A coleção ESSE DITO BICHO de bancos em madeira que trazem o universo fantástico de uma pequena comunidade ribeirinha amazonense, é vendida com exclusividade pela D.pot Objeto.
O texto a seguir foi criado pelo artista Jonathas de Andrade a partir das vivências, falas e sentimentos extraídos na experiência. É um manifesto, cuja leitura emocionou os participantes que disseram reconhecer a si e a seus colegas nestas palavras:
ESSE DITO BICHO
vai pra floresta
trabalha
vive em comunidade
Esse dito bicho
que é sábio
que é rico
que tem valor
que não é ingênuo
Esse dito bicho
e seu mundo fantástico
e seu trabalho
é guardião da floresta
Esse dito bicho
que aprende com a natureza
que é coletivo
que é livre
encantado
Esse dito bicho
e suas miragens
e seus sonhos
que encanta
que permanence
Esse dito bicho
reparte seu benefício
inclui
resiste
Esse dito bicho
tem saber
e ciência da floresta
que é mãe
criativo
conserva a história
Esse dito bicho
que faz o manejo da floresta
se alimenta de sua ancestralidade
tem mãe filha e neta
Esse dito bicho
e sua floresta mãe
Esse dito bicho
não quer só emprego
A COBRA LILI
Uma cobra preta que sempre aparece, deixando imensas marcas perto do rio. Estimam que tenha entre 7 e 8 metros de comprimento e muitos já a viram boiando no rio. Para alguns, a cobra surgiu há 30 anos saindo de uma fenda após um terremoto na região.
CAÇADOR PERVERSO
Um caçador perverso atirou em uma Guariba que carregava um filhote, ignorando o gesto que o animal fazia com a mão para se proteger. Após o tiro, todos os demais macacos do bando desceram da árvore e o atacaram. O homem ficou transtornado e morreu em 3 dias.
PADRE SEM CABEÇA
A entidade é vista sempre na mata convidando as pessoas que passam para fumar.
PÉ-MELADO
Todos já escutaram a noite o barulho de passadas sobre a lama, entretanto ninguém conseguiu ver o Pé-melado.
MATIN
Um espírito maligno em forma de Pássaro só de ossos, possui um assovio que arrepia quem o escuta. O assovio persegue quem o ignora. A criatura recebeu o nome de Matin pois seu assovia soa como matin…tin…tin.
HOMENS PÁSSAROS
Um homem que caçava pássaros por diversão, subiu em uma árvore para roubar ovos das aves que havia matado. No lugar dos ovos haviam 2 crianças no ninho. Os outros pássaros transformaram-se em pessoas em deram uma surra no caçador que nunca mais matou nenhum animal.
CANTAGALO
Uma ilha na qual um senhor morava sozinho foi inundada. Hoje, quem passa de barco pelo local escuta o galo criado pelo senhor cantar embaixo d ́água. O local é conhecido como Cantagalo.
FOGO-FATO
Pequena bola de fogo azul que cresce e persegue quem a desafiar.
CARIMBÓ EMBAIXO D ́ÁGUA
Uma comunidade que ficava na Praia Grande era conhecida por matar muitos peixes-boi. Um dia uma senhora saiu chorando de dentro do rio, recolheu os ossos dos animais que estavam na praia dizendo que a comunidade estava matando seus filhos e que naquela noite como castigo, a comunidade seria inundada. Ninguém deu ouvidos. A meia noite começou um temporal e, durante uma festa com muito carimbó, a maré começou a subir, alagando tudo. Isso não incomodou as pessoas que continuaram a tocar e dançar. Ao fim, a água cobriu todo o povoado. Hoje há um lago no local e pode-se ver os vestígios das casas e um esteio de ponta-cabeça.
AVÔ-PORCO
Esta é a história da família de Sérgio, um dos participantes do projeto. Quando criança morava com seu avô em um lugar remoto, a beira do rio. Seu avô sempre desaparecia sem dizer para onde ia. Curioso, Sérgio resolveu investigar. Verificou que a única canoa continuava à beira do rio. Quando foi o procurar no chiqueiro, no qual criavam 9 porcos, encontrou as sandálias de seu avô junto à entrada e um total de 10 porcos. A partir de então, começou a acreditar em um boato que ouvia sobre seu avô se transformar no animal. Seu avô não admitia e se zangava quando tocavam no assunto, mas deixou de se transformar em porco quando um amigo ameaçou fazer sexo com os porcos dali
Produtos à venda na Dpot Objeto
Fotos: Loiro Cunha
Fotos: Loiro Cunha
Adelson Oliveira de Souza
Adenildo Gonçalves de Souza
Agnaldo Pereira dos Santos
Assis Bitencourt Cobos
Daniel Oliveira de Souza
Edilson Vieira de Souza
Ednaldo Bitencourt Dos Santos
Elson Rodrigues de Souza
Everaldo Santos da Silva
Gedeã Assis Bezerra
Geovane Silva Nogueira
Marcos U. Palhano
Renato Gonçalves de Souza
Romário O. da Souza
Ronilson Bitencourt Dos Santos
Sérgio da Silva Nascimento
Direção criativa e design
Marcelo Rosenbaum
Direção executiva
Adriana Benguela
Assistente direção
Natalia Paes
Administrativo
Ludimilla Bueno
Texto e Estratégia de comunicação
Del Madeira
Direção de arte e design Gráfico
Fabiana Zanin
Fotos e filmes
Loiro Cunha
Manifesto
Jonathas de Andrade
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