Ouvimos as histórias de Ivaporunduva e pensamos maneiras de contribuir com a criação de novas formas de contar as tradições do lugar.
Em 2016 criamos o Curso Design Essencial em parceria com o Centro Universitário Belas Artes. O objetivo do curso era desenhar o caminho metodológico para a compreensão do Design Essencial, metodologia de aproximação com os valores ancestrais de uma comunidade. O curso teve a duração de um semestre, sendo 10 aulas na Belas Artes e a experiência em campo por 5 dias, na Comunidade de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira.
Design Essencial é uma metodologia que se traduz na capacidade de olhar para uma cultura, descobrir, despertar e potencializar os seus valores e saberes essenciais através do design. Criada em 2010 pelo Marcelo Rosenbaum e equipe do A Gente Transforma, a metodologia vem sendo aplicada em todos os projetos do Instituto e evoluído a cada aprendizado.
Marcelo Rosenbaum
Ivaporunduva é a comunidade mais antiga do Vale do Ribeira, banhada pelo rio Ribeira de Iguape, que banha os estados do Paraná e de São Paulo. O povoado é composto por 400 habitantes e 110 famílias. A Comunidade surgiu como um povoado no século XVII antes mesmo da fundação de Xiririca, antigo nome de Eldorado.
No centro da comunidade fica a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, fundada em 1790 e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT).
Os principais empreendimentos comunitários de Ivaporunduva são a Roça de Banana Orgânica, cuja produção é vendida para entidades públicas da região que direcionam o alimento para a merenda escolar municipal e o Turismo de Base Comunitária. A cada ano, cerca de 100 escolas são recebidas pela comunidade conta com uma hospedaria com ótima infraestrutura e capacidade para abrigar 60 pessoas. Os visitantes participam de uma programação que inclui a colheita de arroz, feijão e hortaliças, visita às plantações de banana, plantio de mudas nativas e oficinas de caça e pesca à aulas de artesanato, gastronomia tradicional quilombola, contação de histórias e roda de viola.
“O Vale do Ribeira é desconhecido da maioria dos brasileiros. Ali está a última área contínua de Mata Atlântica no Brasil. Mais do que isso: a região é casa de dezenas de comunidades quilombolas, grupos remanescentes da opressão escravocrata, que são parte da nossa história, do nosso presente e também do nosso futuro. Das 26 comunidades reconhecidas do Vale do Ribeira paulista, apenas 6 foram tituladas. Sem a garantia da terra, o povo quilombola é impedido de manter sua cultura viva.” (ISA – Instituto Sócio Ambiental).
(ISA – Instituto Sócio Ambiental)
O Vale do Ribeira é uma região formada por 23 municípios paulistas e 7 municípios paranaenses, que guarda em seus parques e reservas naturais de mata atlântica, mais de 10 mil espécies entre fauna e flora declaradas pela Unesco como reserva da biosfera por sua diversidade. Nele estão localizadas 26 comunidades quilombolas reconhecidas (o maior número de comunidades remanescentes de quilombos em todo o Estado de São Paulo).
Participaram da imersão no Quilombo Ivaporunduva os 26 alunos do fez Curso Design Essencial e a equipe A Gente Transforma.
O Quilombo Ivaporunduva tem uma pousada preparada para receber estudantes e estudiosos da cultura. Durante 5 dias na comunidade, a equipe do A Gente Transforma e os estudantes do Curso de Design Essencial, transformamos uma casa tradicional de taipa, em um salão de restaurante. Construímos coletivamente um forno a lenha em barro e dessoramos o salão com as mesas e objetos tradicionais, que coletamos nas casas dos moradores.
A imersão no quilombo Ivaporunduva resultou na webserie Ribeira Essencial que fez parte do movimento de luta pela titulação das terras quilombolas. Essa serie faz parte da estratégia do ISA (Instituto Sócio Ambiental) para unir assinaturas em uma petição para pressionar o governo a titular os territórios quilombolas do Vale do Ribeira.
Na marca proposta para o Quilombo, a vassoura está representando os símbolos da cultura local. As vassouras de ervas foram o objeto mais forte e cheio de significado para os alunos do curso Design Essencial. Em uma das paredes das casas do Quilombo estava uma pintura que acompanhava o escrito “Quilombo Ivaporunduva”. A partir deste escrito foi desenhado todo o alfabeto da fonte “Quilombola” e ela foi mais um material dessa troca.
A marca, ilustrada em aquarela, foi desenvolvida pela designer Carolina Alário, aluna do curso Belas Artes. E a fonte foi desenvolvida também por Carolina, em parceria com a designer Fabiana Zanin.